O governo Federal trata a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) como “inimiga interna”. O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) reconhece que monitora Bispos da Igreja Católica, através da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN), e traz à tona a herança perversa da Ditadura Militar com a “doutrina de segurança nacional”.
Bolsonaro autorizou o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) comandado pelo General Augusto Heleno e a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) a espionarem à Igreja Católica. A decisão de monitorar os bispos que vão participar do Sínodo, em outubro, em Roma, causa escândalo e expõe o Brasil para a comunidade internacional.
O que é o Sínodo?
O Sínodo Pan-Amazônico é uma iniciativa da Santa Sé que articula bispos da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana Inglesa, Peru, Suriname e Venezuela, membros da Rede Eclesial Pan-Amazônica – REPAM, representantes do Conselho Episcopal Latino-americano, CELAM, da Conferência dos Religiosos, CLAR, e da Caritas. Em outubro de 2019, durante 23 dias de evento, o Vaticano vai discutir a situação da Amazônia e abordar a temas referentes aos povos indígenas, quilombolas, e mudanças climáticas provocadas pelo desmatamento. No entanto, o governo brasileiro classificou o tema, segundo palavras do ministro chefe do GSI, o general Augusto Heleno, como “Interferência de assunto internos no Brasil”, de “agenda de esquerda” e “estamos preocupados e queremos neutralizar isso aí”.
Por esse motivo, o GSI e ABIN não mediram esforços para monitorar os bispos em reuniões preparatórias para o Sínodo em paróquias e dioceses. As ações de espionagem envolvem ainda o Itamaraty, para monitorar discussões no exterior, e o Ministério do Meio Ambiente, para detectar a eventual participação de ONGs e ambientalistas.
O Governo Federal e o militares adotam um caminho autoritário em promover uma perseguição à CNBB ferindo a laicidade do Estado. Recrudescem o discurso numa campanha difamatória contra autoridades eclesiásticas, incluíndo o Papa Francisco.
Histórico: A oposição de parte da Igreja Catótica aos torturadores da Ditadura militar
Destacamos três bispos católicos que tiveram atuação na ditadura militar. Sendo eles: Dom Hélder Câmara, Dom Pedro Casaldáliga e Dom Evaristo Arns membros do episcopado mais perseguidos pelo regime militar por defender a justiça social, conflitos fundiários e os direitos humanos.
Dom Hélder Câmara nasceu em 1909 em Fortaleza e foi ordenado bispo-auxiliar no Rio de Janeiro em 1952. A partir desse ano teve um papel de grande importância nas articulações que levaram à criação da CNBB, da qual foi um dos fundadores e primeiro secretário-geral. Em 1964, foi transferido para o cargo de arcebispo de Olinda e Recife, onde ficaria até o final de sua vida. Foi nesse período que dom Hélder projetou-se como um dos grandes líderes na luta pelos direitos humanos no mundo. Ele ficaria marcado pelos projetos sociais implementados em sua diocese, no entanto, seu papel de maior relevância foi como divulgador da existência de tortura no Brasil. Ele realizou verdadeiras cruzadas ao redor do mundo pronunciando-se contra as arbitrariedades do governo brasileiro e teve a imprensa internacional como uma de suas maiores aliadas. Talvez por esse motivo sofreu uma perseguição muito acirrada dos militares, uma vez que aqueles sempre se mostraram muito ciosos da imagem externa do Brasil.
Dom Pedro Casaldáliga, catalão que ocupou por mais de trinta anos a direção da diocese de São Félix do Araguaia em Mato Grosso. Foi um dos membros do episcopado que mais incomodou os militares, uma vez que se envolveu diretamente na defesa de índios e posseiros opondo-se aos latifundiários da região. Por este motivo, foi alvo de várias tentativas de expulsão do território nacional, além de ter sofrido uma tentativa de assassinato, que acabou por vitimar, por engano, o padre João Bosco Burnier.
Dom Evaristo Arns nasceu em 1921 na cidade catarinense de Forquilhinha. Sua trajetória religiosa começou em 1939, quando ingressou na Ordem Franciscana em Petrópolis, no Rio de Janeiro. Formou-se em teologia e filosofia em universidades brasileiras. Ordenado sacerdote em 1945, ele foi estudar na Sorbonne, em Paris, onde cursou letras, pedagogia e também defendeu seu doutorado. Durante a ditadura militar, destacou-se por sua luta política, em defesa dos direitos humanos, contra as torturas e a favor do voto nas Diretas Já. Ganhou projeção nacional e internacional em 1971, logo após tornar-se arcebispo de São Paulo e denunciar a prisão e tortura de dois agentes de pastoral, o padre Giulio Vicini e a assistente social Yara Spadini. Entre 1979 e 1985, coordenou com o pastor Jaime Wright, de forma clandestina, o Projeto Brasil: Nunca Mais. O trabalho foi realizado em sigilo e o resultado foi a cópia de mais de um milhão de páginas de processos do Superior Tribunal Militar (STM). Entre outros episódios de sua trajetória, destacam-se sua atuação contra a invasão da PUC comandada pelo então secretário de Segurança, coronel Erasmo Dias, em 1977; e o planejamento da operação para entregar ao presidente dos Estados Unidos, Jimmy Carter, uma lista com os nomes de desaparecidos políticos. Também organizou celebrações históricas na Catedral da Sé, no Centro de São Paulo, em memória de vítimas da ditadura militar.
A questão de atribuir o caráter de progressistas a determinados bispos que se opuseram aos arbítrios da repressão não diminuir a importância que esses religiosos tiveram na resistência à ditadura militar ao lutarem pela justiça social e pela proteção aos direitos humanos. A CNBB e seus bispos tiveram um papel fundamental nos anos de chumbo, pois constituíam um dos poucos grupos que podiam lutar com alguma liberdade contra o regime. Eles se apoiavam na relação histórica entre a Igreja e o Estado e no suposto privilégio que daí poderia advir e com qual outros setores sociais não contavam. Ainda assim foram bastante perseguidos por todas as esferas do aparato repressivo.
Militares ocupam cargos no governo assim como fizeram na Ditadura Militar
O General da Reserva Augusto Heleno, ex-comandante das Tropas Brasileiras no Haiti, é a cabeça conhecida do grupo mais radicalmente antipetista. Foi ele que articulou o lançamento de 90 militares para eleições de 2018, elegendo 72. Ele assumiu a chefia do GSI e promete uma dura repressão ás organizações dos trabalhadores. Seu grupo tem o articulador político o General Mourão, vice presidente do governo Fantoche. Mourão desde 2015, percorria os quartéis em todo o Brasil “dando palestras”, ou melhor, articulando a campanha eleitoral.
Sabendo que Jair Bolsonaro eleito na fraude conseguiu colocara em alto e médio escalão toda escória potencialmente criminosa e torturadora da Nova Ditadura. O destaque fica para o General Santos Cruz, tido como um dos generais mais linha dura desse grupo. Também conseguiram aparelhar o Ministério de Infraestrutura e Controladoria Geral da União.
Os militares participaram do golpe contra a Presidente Dilma e se colocam dispostos para manter Lula preso. Os militares ocupam cerca de cem cargos no atual governo de Jair Bolsonaro, entre eles: 48 comandam pastas de posições estratégicas como: ministérios; Estatais; Órgãos de repressão. Dentre os cargos, o Exército concentra o maior número de quadros de primeiro, segundo e terceiro escalões. São pelo menos 32. Desses, 18 são generais e 11, coronéis, todos chamados oficiais-superiores, muitos deles formados pela Escola Superior de Guerra (ESG) e Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), com grau superior e que forma os dirigentes do Exército (entre eles, Bolsonaro e Mourão).
Confira a lista com a distribuição de cargos entre militares:
1º escalão
Presidente: Capitão do Exército Jair Bolsonaro
Vice-presidente: General-de-Exército Hamilton Mourão
Ministro do Gabinete de Segurança Institucional: General-de-Exército Augusto Heleno
Ministro de Minas e Energia: Almirante-de-Esquadra Bento Albuquerque
Ministro da Secretaria de Governo: General-de-Divisão Carlos Alberto dos Santos Cruz
Ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações: Tenente-coronel da Aeronáutica Marcos Pontes
Ministro de Infraestrutura: Capitão do Exército Tarcísio Gomes de Freitas
Ministro da Controladoria-Geral da União: Capitão do Exército Wagner Rosário
Ministro da Defesa: General-de-Exército Fernando Azevedo Silva
Principais cargos no 2º e 3º escalões
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Diretor de Programa da Secretaria-Executiva: Coronel-aviador da Aeronáutica Ricardo Roquetti
Assessor especial do ministro: Coronel do Exército Robson Santos da Silva
MINISTÉRIO DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA
Secretário-executivo adjunto: Coronel do Exército Carlos Alberto Flora Baptistucci
Secretário de Radiodifusão: Coronel do Exército Elifas Chaves Gurgel do Amaral
Chefe de gabinete do ministro: Brigadeiro-aviador Celestino Todesco
Secretário de Políticas Digitais: Tenente-brigadeiro-do-ar Antonio Franciscangelis Neto
Assessor especial do ministro: Tenente-brigadeiro-do-ar Gerson Nogueira Machado de Oliveira
Diretor do Departamento de Serviços de Telecomunicações: Coronel aviador da Aeronáutica Rogério Troidl Bonato
MINISTÉRIO DA DEFESA
Chefe de gabinete: general do Exército Edson Diehl Ripoli
MINISTÉRIO DA INFRAESTRUTURA
Secretário Nacional de Transporte Terrestre e Aquaviário: general do Exército Jamil Megid Júnior
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE
Secretário de Orçamento, Finanças e Gestão: general do Exército Nader Motta
MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA
Secretário nacional de Segurança Pública: General-de-Exército Guilherme Theophilo Oliveira
Coordenador-geral de Estratégia da SENASP: Coronel do Exército Freibergue do Nascimento
Coordenador-geral de Políticas da SENASP: Coronel do Exército José Arnon dos Santos Guerra
Coordenador-geral de Licitações da SENASP: Coronel do Exército Marcelo Lopes de Azevedo
Assessor técnico do gabinete do ministro: suboficial da Aeronáutica Alexandre Oliveira Fernandes
SECRETARIA-GERAL
Secretário-executivo: General-de-Divisão Floriano Peixoto
Secretário especial de Assuntos Estratégicos: General-de-Exército Maynard Marques de Santa Rosa
Secretário especial de Assuntos Estratégicos adjunto: General do Exército Lauro Luís Pires da Silva
Assessor especial: Coronel do Exército Walter Félix Cardoso
Secretário de Administração: Coronel do Exército Gilberto Barbosa Moreira
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA
Porta-voz: general do Exército Otávio do Rêgo Barros
GABINETE DE SEGURANÇA INSTITUCIONAL (GSI)
Assessor: general do Exército Eduardo Villas-Bôas
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
Assessor: capitão de mar e guerra da Marinha Marcos Perdigão Bernardes
Assessor: capitão de mar e guerra da Marinha Almir Alves Junior
Assessor: brigadeiro da Aeronáutica Mozart de Oliveira Farias
CORREIOS
Presidente: General-de-Exército Juarez Aparecido de Paula Cunha
Assessor especial: Coronel do Exército André Luis Vieira
DNIT
Diretor-geral: general do Exército Antônio Leite dos Santos Filho
Diretor-executivo: Coronel do Exército André Kuhn
FUNAI
Presidente: General-de-Exército Franklimberg Ribeiro de Freita
INCRA
Presidente: General-de-Exército Jesus Corrêa
ITAIPU
Diretor-geral: General-de-Exército Joaquim Silva e Luna
PETROBRAS
Presidente do Conselho: Almirante-de-Esquadra Eduardo Bacellar Leal Ferreira
Gerente-executivo de Inteligência e Segurança Corporativa: capitão-de-fragata Carlos Victor Guerra Naguem
SUPERINTENDÊNCIA DA ZONA FRANCA DE MANAUS
Superintendente: Coronel do Exército Alfredo Menezes
TELEBRAS
Diretor administrativo-financeiro: General do Exército José Orlando Ribeiro Cardoso
EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES
Presidente: General-de-Exército Exército Oswaldo Ferreira
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